Quando você tem algum problema ou distúrbios psicológicos, é muito reconfortante saber que tem alguém que se sente do mesmo jeito que você, mesmo que essa pessoa seja um personagem fictício. O papel da indústria cinematográfica é nos fazer acreditar em algo impossível ou nos mostrar a realidade das coisas possíveis. É como dizem: a arte imita a vida.

Mas mesmo tendo boas intenções, nem todos os cineastas conseguem capturar a verdadeira realidade de alguns transtornos mentais. Alguns filmes retratam de forma piedosa, fazendo com que o telespectador tenha pena da pessoa. Quando deveriam mostrar que mesmo tendo esses transtornos, é possível viver o seu dia-a-dia normalmente como todo mundo.

No site da Mental Health America (MHA), uma organização sem fins lucrativos dos estados unidos cujo proposito é retratar as necessidades de pessoas com doenças mentais e promover a melhora desses problemas, eles exploraram a influencia da mídia na saúde mental e como alguns filmes e programas podem propagar informações erradas sobre distúrbios psicológicos.  Mas quando é feito corretamente pode formar um local seguro para uma conversa.

Dito isso, aqui estão, em nenhuma ordem especifica, os melhores trabalhos que retratam a vida de alguém com distúrbios psicológicos:

AVISO, PODE CONTER SPOILER!

  • One Day at a Time

Onde Assistir: Netflix

Transtorno: Ansiedade, Depressão e Estresse Pós Traumático

A série retrata a vida de uma família cubana-americana que vive na Califórnia. Penelope (Justina Machado), é uma veterana de guerra e mãe solteira de Elena (Isabella Gomes), uma adolescente ativista que durante a série descobre sua sexualidade, e do Alex, um menino vaidoso que é o favorito da vó, ou abuelita, Lydia (Rita Moreno), uma patriota e católica tradicional.

Durante três temporadas a série aborda sexualidade, alcoolismo, privilégio, racismo, imigração e vários outros temas. Mas o que mais me afetou foi como eles mostraram saúde mental.

Penelope é diagnosticada com depressão, ansiedade e estresse pós traumático e durante a primeira temporada podemos ver sua luta ao aceitar a começar a tomar antidepressivos. Ela ainda tem que lidar com sua mãe que também tem seus preconceitos com transtornos mentais.

Em cada temporada temos um episódio brilhante focado na saúde mental da família. Mesmo sendo uma sitcom de comédia One Day At a Time consegue retratar problemas sérios do cotidiano de uma forma leve mas honesta. Como alguém que lida com ansiedade diariamente, foi muito reconfortante ver esse transtorno ser retratado tão maravilhosa e honestamente.

  • On My Block

Onde Assistir: Netflix

Transtorno: Estresse Pós-traumático

On My Block é uma série original da Netflix que mostra a vida de um grupo de amigos no meio de uma guerra entre gangues que acontece em seu bairro. Enquanto Monse (Sierra Capri), Jamal (Brett Gray) e Ruby (Jason Genao) tentam tirar Cesar (Diego Tinoco) da gangue “os Santos”, eles também tem que descobrir como sobreviver ao ensino médio.

No final da primeira temporada (SUPER SPOILER ALERT) Olivia (Ronni Hawk) e Ruby levam um tiro no meio da festa de 15 anos de Olivia. Entretanto, o tiro, que veio de um membro da gangue dos Profetas, era na verdade para Cesar que foi obrigado pelo seu irmão Oscar, um dos líderes dos Santos, a entrar na gangue.

No início da segunda temporada, podemos ver as consequências dessas ações. Olivia morre, mas Ruby sobrevive e tem que lidar com a perda da garota que ele gostava e com sua própria sequela do acontecido.

Em uma cena em especial é possível ver o seu sofrimento: Quando ele e Jasmine (Jess Marie Garcia) se inscrevem e ganham a competição de dança de sua escola mas começa a tocar uma música, a mesma que estava tocando durante no tiroteio. Os escritores de OMB acertaram em cheio ao mostrar Ruby lidando com suas cicatrizes emocionais e Jasmine, apoiando ele e o ajudando em momentos de crise, mostrando não só como é ter esse transtorno mas como é ter e ajudar um amigo com esse transtorno.

Com o elenco majoritariamente negro e latino a série se diferencia ao mostrar a realidade não só de ter um distúrbio mental mas a de tentar sobreviver o ensino médio em meio ao caos.

  • Crazy Ex-Girlfriend

Onde Assistir: Netflix

Transtorno: Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)

Nessa série musical da CW vemos a vida de Rebecca Bunch (Rachel Blum) uma jovem advogada de New York, que depois de reencontrar Josh (Vincent Rodriguez III), um crush da adolescência, decide se mudar para Califórnia, pois é onde Josh vive. De relance você já deve achar que Rebecca é louca e que essa série também, mas, com um pouco esforço, todo mundo consegue ver a verdade por trás da fachada que essa série tem.

Nas primeiras temporadas é possível perceber que Rebecca é muito mais que o estereótipo da ex-namorada louca. Ela é uma ótima advogada, uma mulher com uma personalidade forte mas que claramente possui uma doença mental não tratada. Durante os episódios ela percebe que seus problemas não se resolvem e que tem alguma coisa de errada, então ela resolve procurar ajuda profissional que a diagnostica com Transtorno de Personalidade Borderline. TPB é um padrão de comportamento anormal caracterizado por instabilidade nos relacionamentos interpessoais, instabilidade na imagem de si próprio e instabilidade emotiva.

Diferente de muitas séries que mostram seus personagens com distúrbios mentais como malvados ou as vítimas, Rebecca é normal, é um ser humano complexo como todos nós.

“Eu gosto de como a série mostra a complexidade das pessoas. Cada personagem tem suas falhas e dificuldades combinadas com aspectos maravilhosos. Ela reflete a humanidade.” Diz Hilary Jacobs Hendel, psicoterapeuta e autora, para o website Self.

  • Atypical

Onde assistir: Netflix

Transtorno: Autismo

Essa série de comédia da Netflix conta a história de Sam (Kier Gilchrist) um adolescente diagnosticado dentro do espectro autista. A série mostra seu dia-a-dia no trabalho, escola, terapia e na busca de uma namorada.

Qual a diferença entre o Transtorno do Espectro Autista e a doença Autismo?

Podemos ver como o tema de fazer parte do espectro está crescendo na indústria do entretenimento. Em séries como The Big Bang Theory, Comunity e The Good Doctor ou em filmes como Power Rangers (2017). Mas, ao retratar esse transtorno, a maioria das séries e filmes tendem a ter um tom mais obscuro, melancólico.

Os criadores dessa sitcom querem mostrar ao mundo como é conviver com o autismo de uma forma cômica e pura. Mesmo com essa intenção bela, a série possui suas críticas, a mais comum foi a escolha do elenco. Sam tem autismo, Kier Gilchrist não tem.

Mesmo com as críticas ruins todos podem concordar em uma coisa que a Atypical acertou: as amizades. Sam trabalha com seu melhor amigo Zhahid (Nik Dodani), e nenhuma vez Zhahid tratou autismo como a incapacidade de fazer algo, muito pelo contrário, ele tenta fazer com que Sam enfrente seus medos. Zhahid e Casey (Brigette Lundy-Paine), irmã de Sam, são os poucos personagens na televisão que não se importam em ter um ente querido com TEA. Claro que Casey tem seus momentos de raiva por não ter a atenção que seus pais dão para o irmão, mas nunca ela o tratou de uma forma diferente que ela o trataria se ele não fosse autista.

Atypical foi renovada para uma terceira temporada que, provavelmente, será lançada ainda em 2019.

https://www.youtube.com/watch?v=I5W7mjSli30

  • Shameless US

Onde assistir: I.Sat

Transtorno: Transtorno Bipolar

Shameless US é a versão Americana da série britânica de mesmo título. Ela mostra a vida da família Gallagher, que mora na zona sul de Chicago, a região mais pobre da cidade. Frank (William H. Macy), o pai, é alcoólatra e viciado em drogas que só aparece em casa para dormir e pedir dinheiro aos filhos fazendo com que Fiona (Emmy Rossum), sua filha mais velha, assumisse o papel de chefe da casa e cuidar de seus cinco irmãos mais novos.

Quando Monica (Chloe Webb), a mãe que abandonou os filhos, retorna podemos ver os problemas que envolvem a família. Na primeira temporada ela tenta “roubar” um dos filhos para criar com sua namorada. Já na segunda, nos aprofundamos mais na sua história quando a mesma desenvolve depressão e, então, tenta se matar. Com uma atuação merecedora de um Emmy, cada um dos Gallaghers lida com isso da própria maneira. Até que na quarta temporada fica obvio que um dos filhos, Ian (Cameron Monaghan), também é bipolar.

Ian passou por muitas coisas ruins durante a série entretanto é quando ele desparece e seu namorado Mickey (Noel Fisher) o encontra trabalhando como stripper que fica claro que algo não está certo. Acima de tudo, a série mostra todos os lados da pessoa bipolar: a mania, a hipomania e a depressão.

Durante nove temporadas, Shameless mostra a vida dos Gallaghers e todos os dramas que envolve suas vidas. Mas, o mais importante é que mostra de uma maneira não censurada como Ian lida com sua doença.

  • Degrassi & Degrassi: Next Class

Onde Assistir: Netflix

Transtorno: Estresse Pós-traumático, Ansiedade, Depressão, Transtorno Bipolar, Bulimia e Anorexia nervosa.

Degrassi é um grupo de especiais que segue a vida de um grupo de adolescentes que estudam na escola Degrassi. Essa série gigante já apresentou vários distúrbios mentais, começando com depressão, ansiedade, até bulimia. Na primeira versão da série até podemos ver Cam Saunders (Dylan Everett) cometer suicídio.

Degrassi é uma série feita para adolescentes sobre adolescentes. Depois que suas primeiras edições foram encerradas parecia que era o fim para essa série. Até que criaram a nova edição: Degrassi: Next Class.

Essa nova versão retrata tantos problemas que são relevantes hoje em dia de uma maneira surpreendentemente brilhante. Mesmo que todas as temporadas lidem com os mesmos dramas adolescentes de sempre como relacionamentos, sexo, problemas familiares, etc. É o modo como Degrassi lida como os problemas maiores que o diferencia. É atrevido e cuidadoso, corajoso e muito bem intencionado.

  • A Million Little Things

Onde Assistir: GloboPlay

Transtorno: Depressão

Essa série mal chegou e já é dona do meu coração. A Million Little Things mostra um grupo de amigos adultos e como uma tragédia pode os unir ou então, separar. No piloto a primeira cena que vemos é a vida de cada um: Gary (James Roday), que tem dificuldade em se comprometer em relacionamentos sérios, tenta descobrir se seu câncer voltou; Eddie (David Giuntoli), um musico fracassado que agora é professor, esconde um caso de sua mulher bem sucedida; Rome (Romany Malco), um cineasta apaixonado pela mulher, luta contra a depressão que esconde da família e amigos e estava prestes a se matar quando recebe a notícia que seu amigo, Jon (Ron Livingston), o mais bem sucedido de todos, pulou da sacada de seu escritório.

A série ainda tem um gostinho de drama quando os amigos tentam descobrir o porquê do Jon ter se matado. E ainda vemos Ashley (Christina Ochoa), secretaria de Jon, esconder uma carta que endereçada a Deliliah (Stephanie Szostak), sua esposa. E mostra Rome, eventualmente contar a verdade para sua mulher, ao aceitar sua condição e entendê-la começando a se tratar.

O programa retrata de forma real e crua como realmente é ter depressão, não glamoriza ou romantiza. Fala apenas a verdade de como lidar com isso ao lado dos amigos.

https://www.youtube.com/watch?v=XdbWoVBvrpM

  • My Mad Fat Diary

Onde Assistir: Youtube

Transtorno: Depressão

MMFD é uma série britânica baseada no livro “My Fat, Mad Tennage Diary” escrito por Rae Earl. Acompanhamos a vida de Rae (Sharon Rooney), uma jovem obesa de 16 anos que acaba de sair de um hospital psiquiátrico e se depara com um mundo onde ela não se sente confortável. Ela tem que escolher entre seus dois mundos: o mundo seguro e estável do hospital onde fica seus amigos e seu terapeuta ou o mundo assustador em que ela passou muito tempo evitando junto com sua ex-amiga e o clique da escola. Quando não consegue confrontar nenhum dos dois, Rae fica entre eles não dizendo a verdade para seu terapeuta e escondendo que tentou se matar de Chloe (Jodie Comer) e seus amigos.

A série carrega com si uma autenticidade e legitimidade em uma vida com doenças mentais, baixa autoestima e distúrbios alimentares. Permite os telespectadores a explorar seu mundo de uma maneira cômica, e os encoraja a rir com ela e não dela. MMFD mostra que doenças mentais são normais e oferece uma personagem que é carinhosa, profunda e divertida em vez das mesmas personagens “misteriosas” e o estereótipo da garota gótica depressiva.

My Mad Fat Diary é uma luz no fim do túnel.

  • This is Us

Onde Assistir: Fox

Transtorno: Síndrome do Pânico, Ansiedade, Depressão e alcoolismo

This Is Us é uma série de dramática familiar, ganhadora de um Emmy, que conta a história da família Pearson. Ela mostra a vida do casal Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore) que se preparam pra ter trigêmeos. Quando um dos filhos morre no parto, eles decidem adotar Randall (Sterling K. Brown), um menino que nasceu no mesmo dia mas foi abandonado pela família. Em dois tempos diferentes, vemos as crianças crescerem e elas já adultas. Randall é um empresário que tenta descobrir quem é seu pai biológico, Kate (Chrissy Metz) tem problemas ao aceitar seu peso, e Kevin (Justin Hartley) tenta se tornar um ator bem sucedido.

Durante três temporadas emotivas conseguimos ver vários distúrbios psicológicos, principalmente com Randall que sofre com ataques de pânico e ansiedade. Com cenas que me faz querer chorar até dormir, vemos Jack lutando com seu problema com a bebida, Toby (Chris Sullivan), marido de Kate, tentando lidar com sua depressão, e Randall tentando aceitar seu transtorno.

O que faz com que This Is Us se destaque em meio de um mundo de séries não é só a atuação impecável dos atores mas também o fato que eles não estão somente retratando transtornos mentais, eles estão retratando homens com transtornos mentais, coisa que pouquíssimas séries e filmes já fizeram.

Uma perfeita descrição de distúrbios psicológicos não é possível ser feita, mas na minha opinião, This Is Us é a que chega mais perto da perfeição.

  • Please Like Me

Onde Assistir: Netflix

Transtorno: Ansiedade e Depressão

Please Like Me é uma sitcom australiana que mostra a história de Josh (Josh Thomas) que acaba de terminar com Claire (Caitlin Stasey) e descobre que ele é gay. A série foi criada e estrelada por Josh Thomas e é inspirada pelos acontecimentos da vida dele.

Já podemos ver alguns problemas na primeira temporada quando conhecemos Rose (Debra Lawrance), mãe de Josh, que tenta cometer suicídio. Contudo, o que diferencia a série é que ela mostra todas as fases da depressão até o tratamento. Mostra o desenvolvimento de Rose como um personagem ao lidar com tudo isso.

A série ainda apresenta Hannah (Hannah Gadsby) uma mulher que se interna depois de um surto que ela teve no supermercado, e Arnorld (Keegan Joyce), um interesse amoroso de Josh que vive com ansiedade.

Em vez de colocar esse plot como secundário e focar na vida de Josh, ou colocar uma narrativa fraca como um meio de “resolver” os transtornos mentais, Please Like Me entende que doenças mentais são uma batalha recorrente que, portanto, necessita de ajuda profissional, amor próprio, e forte apoio de família e amigos.

Bônus: Feed

Transtorno: Anorexia

Feed não é uma série, é um filme. Mas esse filme foi tão forte e bem feito que merece estar nessa lista. Escrito, produzido e estrelado por Troian Bellisario (Pretty Little Liars) a história segue a vida de Olivia (Bellisario) e como ela desenvolve anorexia depois da morte de seu irmão gêmeo Matthew (Tom Felton).

O mais importante que destaca o filme não é a cinematografia mas sim o modo que ilustra como é estar na mente da alguém com um transtorno alimentar e como, quem já teve algum sabe, transtornos alimentares não são sempre sobre comida.

Diferente dos outros filmes que focam somente em como são seus comportamentos, Feed foca no processo psicológicos que os geram. Foca no relacionamento dela com o fantasma de Matthew, que seria o seu transtorno mental. E essa é a parte em que as pessoas conseguem se identificar porque isso que é os transtornos alimentares. As vozes na sua cabeça.

Esquecemos de algum? Nos avise nos comentários.

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