Depois de ter passado quase cinco anos com síndrome do pânico falta apenas um mês para eu parar de tomar antidepressivo.

Um momento como esse faz você pensar: será que estou pronta pra isso? Será que não vou ter uma recaída? Sim. Eu estou pronta pra isso! Não posso duvidar de mim mesma, se eu não acreditar em mim quem vai?

No início, quando eu tive uma das minhas primeiras crises eram seis da manhã, não tinha dormido e nem deixado meus pais dormir por causa da crise, quando finalmente estava me acalmando meu pai olhou pra mim e disse que achava que era síndrome do pânico.

Já tinha marcado vários médicos para ter certeza que estava tudo certo, cardiologista, neuro, ultrassom, tudo veio limpo. Até que eu fui no psiquiatra e ela confirmou que era síndrome do pânico. Nunca tinha ouvido falar, e de repente era o centro da minha vida.

Depois do diagnóstico me falaram que o tratamento seria entre remédio e terapia. No começo, eu odiava a terapia com paixão! Por que que eu tinha que falar com uma desconhecida sobre minha vida? Minha vida não é nem um pouco interessante, não faço nada o dia inteiro, só vou pra escola e pra casa o que que eu devia falar com ela?

Com esses pensamentos que eu tinha no início, não demorou muito para meu tratamento se basear somente no remédio. Mas não foi tão simples assim, com o tempo fui percebendo que precisava de alguém pra conversar.

Eu decidi voltar com a terapia quando resolvi fazer uma festa de quinze anos. Eu sempre falei que não iria fazer uma festa de 15, que iria usar esse dinheiro para fazer uma viagem. Nos primeiros meses de 2016 percebi como isso não daria certo, eu estava presa a síndrome e não iria conseguir viajar.

Então com toda a preparação para a festa, eu percebi que eu também não iria conseguir ficar bem no meio de tantas pessoas sem ajuda profissional. Então, eu voltei para a terapia. Claro que a maioria do tempo eu falava mais das séries que eu assistia e das minhas amigas do que realmente falar dos problemas e das crise, mas a terapia me ajudou a me preparar para aquela festa.

27 de abril de 2016, a festa ia ser no dia 30, mas, no dia 27 eu recebi uma pequena surpresa na escola. Na hora do intervalo, eu Giovanna, taurina, estava morrendo de fome e tudo que queria era pegar um pastel na cantina, enquanto minhas amigas ficavam me puxando falando “vem no banheiro comigo” e “cara, assisti Grey’s Anatomy ontem, chorei horrores” mesmo assim, e o fato que uma das minhas amigas mais próximas ainda não tinha me desejado feliz aniversário, não suspeitei de nada.

Até quando elas me levaram para o quiosque que tinha na minha escola (ainda não tinham me deixado comer) e tinha um monte de gente lá, eu não suspeitei de nada. Só quando começaram a cantar parabéns que eu percebi o bolo e o que estava acontecendo.

Por que que eu estou contando isso pra você, pessoa desconhecida que está lendo esse texto querendo um pouco de ajuda com seus problemas? Eu estou falando isso, porque melhor que qualquer remédio são esses momentos, essas pessoas que estão lá com você, mesmo não entendendo o que você está sentindo eles estão lá do seu lado e é isso que realmente te faz querer melhorar.

No dia 30 foi a festa. Eu não posso dizer que foi tudo bem e que eu de repente estava curada, eu estaria mentindo pra você e pra mim mesma. Eu não ia dançar valsa, eu ia tocar bateria e com a ajuda da minha mãe encontramos uma banda que me ajudou a fazer isso. Mas no dia, fiquei ansiosa e falei que não ia tocar nada, que não precisava me apresentar, fazer toda aquela tradição de festa de quinze anos.

Mas com a ajuda da banda e da incrível Twyla, a cantora (OBS: ela participou no The Voice, vão ver ela no Youtube) quando cheguei na festa eles me fizeram ensaiar a música e o guitarrista me disse que se em algum momento eu me sentisse mal era só olhar pro baterista que ele tomaria meu lugar. Aquele apoio foi tudo, foi uma ajuda muito importante e mesmo que parece tão insignificante o fato que eu toquei Zombie na bateria no meu aniversário foi um passo tão grande que eu dei rumo a minha melhora.

Agora se você for algumas olhar as fotos daquela noite você vai ver euzinha com uma cara de, e desculpa o palavrão, “cu” por que o tempo todo eu ficava pensando em não passar mal e esqueci que eu estava em uma festa. Era pra eu está me divertindo.

Quando chegou a hora de tocar a bateria eu estava em um quarto que tinha no salão de festas pra eu me arrumar, abraçada com um vaso sanitário pensando que eu iria vomitar, eu não vomitei. Eu falava “eu não vou tocar a bateria, fala pra eles que não vai ter nada’’. A única coisa que me fez realmente sair do chão foram minhas amigas. Minhas amigas me tiraram do chão e ficaram me empurrado pro palco.  Por mais que na hora eu queria enforcar aquelas meninas na hora, eu não teria subido no palco se não fosse elas e por isso eu agradeço.

Agora, depois que eu toquei aquela bateria parecia que um peso foi tirado de mim, o resto da festa passou tão rápido por que eu estava me divertindo, eu esqueci da síndrome do pânico e quando eu me lembrava, eu tinha amigas pra me fazer esquecer. O único arrependimento que eu tenho daquela noite foi ter me preocupado tanto com um medo do inexistente.

A festa foi muito importante pra mim, por causa dela eu voltei a fazer terapia, eu superei um medo, eu fui maior que a síndrome. São momentos como esses que agora que estou melhor e olho pro passado percebo o quão importante foram pra minha melhora.

Depois disso as crises foram diminuindo, eu estava melhorando tanto que a minha psiquiatra estava começando a fazer o “desmama” que é a retirada do remédio. Só que o problema foi, o remédio estava acabando em uma época ruim. Meus pais trabalham com eventos e estava na parte do ano em que o evento principal que eles fazem, uma feira, estava chegando então eles iam ficar uma semana em são Paulo. Um dia antes deles irem eu tive uma crise bem forte que preocupou minha mãe, foi uma recaída intensa. Em quanto eles estavam em são Paulo eu fiquei na minha vó, meu primo que é farmacêutico conseguiu uma caixa de remédio pra mim. Mas a crise foi muito forte, tivemos que interromper o processo da retirada do remédio e até troca-lo e aumentar a dose.

Naquela semana eu estava indo a escola e não podia faltar por causa de prova. Um dia, durante uma aula eu tive uma crise que eu comecei a chorar do nada. Meus amigos se preocuparam comigo, ficaram perguntando o que aconteceu, eu expliquei pra eles o que aconteceu e eles me deram um apoio enorme. Na hora do intervalo, uma amiga ficou comigo na sala. Ela também tinha várias crises de ansiedade e pânico, e sempre que ela tinha na escola ela ia pro quiosque e eu a seguia tentando acalma-la e distrai-la até que ela ficasse bem.

Naquela dia, enquanto eu chorava e ela chorava junto ela olhou pra mim e disse “fica bem, por que se você ficar bem, eu também vou”. Essa frase foi o que me fez seguir com o tratamento até o fim. Eu fiz o tratamento por ela. Pra que um dia nós duas ficássemos bem.

No final da semana, eu fui com meus tios pra feira dos meus pais pois minha mãe estava muito preocupada comigo. Lá estava cheio de gente, e houve uns momentos em que eu não me sentia bem, então, minha mãe me deixou ficar na sala dela. Fiquei lá pela maior parte do dia.

Quando resolvi sair e andar pela feira um casal chegou procurando pela minha mãe, a mulher me reconheceu e me chamou. Fui falar com eles e ela perguntou se eu a reconhecia, disse que sim. Menti, não fazia a menor ideia de quem ela era. Ela me elogiou, falando como eu era uma boa artista e que ela tinha visto meus desenhos e quadros, falou como eu tinha uma alma de artista. Ela também me falou que minha mãe tinha contando pra ela sobre minha recaída e que ela era psicóloga e que se algum dia eu precisasse de alguém pra conversar, ela estaria ali. Agradeci e no momento não achei que fosse nada. Achei que nunca mais ia ver aquela mulher na vida.

Depois da feira, eu e minha mãe tivemos uma conversa sobre o como não achávamos que a terapia estava funcionando e que talvez devêssemos mudar de terapeuta. Algum tempo depois, eu tive uma crise, já não ia mais na terapia, e me lembrei daquela mulher. Minha mãe me falou que o nome dela é Aline e que ela trabalha com pacientes que tinha distúrbios que nem o meu. Naquele dia, quando estava tendo crise, perguntei pra minha mãe se tinha como falar com ela. Ela disse que sim. A Aline mora no Rio e eu no vale do paraíba, e não tinha como eu pegar um busão pra conversar com ela. Então, como estamos no século 21, conversamos pelo Skype. Por uma hora. Me lembro que ela me mandou uns arquivos e exercícios pra fazer enquanto eu tiver tendo a crise.

Quando terminamos e contei pra minha mãe como ela me ajudou, minha mãe foi falar com ela pra ver se ela tinha vaga e se poderia ser minha terapeuta. Minha mãe até hoje fala como em uma sessão ela viu uma melhora em mim que não tinha visto em dois anos.

Agora é o momento em que eu falo pra você sobre terapia. Não tinha nada errado com a minha primeira terapeuta, ela era uma ótima profissional. O problema é que eu acho que ela nao consegui lidar com a minha síndrome. Depois de dois anos ela não me ensinou como lidar com crises, e exercícios de respiração. Não era uma terapia voltada somente para síndrome do pânico, para resolver a síndrome. Era mais uma terapia onde eu falava sovre minha semana. Olhando pra traz eu também percebo que não era a paciente mais fácil de lidar. Eu não queria fazer terapia e esse é um grande problema e parte do fato que a terapia não estava funcionando.

Mas se você me perguntar como achar a terapeuta certa acabar com a sua síndrome, eu vou te falar que todos terapeutas deveriam sair da faculdade preparados para lidar com esses transtornos, mas nem todos são. Nem todo terapeuta vai saber cuidar do seu problema. Então, procure terapeutas que pareçam mais acostumados com esses distúrbios. Que tenha recursos e exercícios pra te ajudar, e que mesmo quando você tenta mudar de assunto e falar sobre aquele episódio de Grey’s Anatomy ela volte a falar sobre as coisa difíceis, por que são elas que vão te ajudar a superar isso. São esses terapeutas que vão encontrar a raiz do problema e matá-la.

Eu Sobrevivi à Síndrome do Pânico

Depois que comecei a fazer terapia com a Aline, as minhas diminuíram muito até que elas pararam de existir. Ano passado (2018) também tive que trocar de psiquiatra e encontrei um novo que achei maravilhoso. Ele me disse que não ia tirar o meu remédio por que quando ele tira o remédio de um paciente três coisas precisam estar certas: a pessoas não pode ter tido crise por um bom tempo; ela tem que estar em “um lugar bom da vida”; em um momento estável; e não pode ter nenhum evento que possa causar recaídas próximo. Quando me encontrei com ele, estava bem próximo da época de vestibulares e Enem, por isso ele optou por não retirar meu remédio, e por mais que a Aline odeie remédio, acho que ele estava certo.

Depois desse encontro, com meu remédio e terapia, não tive mais crises. Claro que de em tempo em tempo bate uma ansiedade, mas a brilhante Aline me disse que eu tenho que aprender a diferenciar sintomas de outras doenças e sintomas da crise, e obviamente um dos sintomas da síndrome é a crise de ansiedade. Mas nem toda ansiedade que você sentir na vida vai se relacionar com síndrome.

A ansiedade que você tem quando vai em uma festa, ou quando você vai apresentar um trabalho na escola/faculdade, ou aquela ansiedade que você sente falando com o crush. São ansiedades que todo mundo sente e que não tem nada ver com a síndrome. Diferenciar esses sintomas pode ser difícil, e não tem nenhum truque pra você saber de imediato, mas com o tempo você tem que começar a perceber que nem toda ânsia, ou tontura tem algum significado com síndrome.

Hoje em dia (junho de 2019) eu estou parando com meu remédio, e continuando com a minha terapia. Não é por que eu estou curada que significa que eu tenho que parar de falar sobre o que sinto. Na verdade é o oposto, eu tenho que continuar a fazer terapia para que as crises não voltem. Se vou fazer terapia pro resto da vida? Talvez, não tem nada de errado com terapia, ela pode ajudar a resolver vários problemas do dia a dia, não só transtornos mentais. Mas se você acha que só porque não tem crise há um tempo, ou que você está parando com os remédios que deveria parar com a terapia também você está muito enganado. O meu psiquiatra só está parando com o remédio por que eu ainda estou na terapia.

É por isso que eu acho que quando você está com um problema que nem esse você deve primeiro começar com a terapia. Às vezes a terapia pode não está funcionando, pode ser por que você precise do uso de remédios, pode ser porque você não está 100% comprometido com ela, ou que o terapeuta não seja o certo pra você. Mas não desista, procure até achar o terapeuta certo pra você, ou, se somente a terapia não esteja te ajudando procure um psiquiatra e comece com o remédio. Remédios podem fazer uma bagunça com o seu organismo, claro que quando necessário devem ser tomados com a devida orientação, mas se você pode evita-los, evite! A terapia foi a principal razão que eu estou aqui hoje, curada.

Fotos: Erasmo Ballot

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